quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A serpente



"ontem olhei pra baixo e vi uma sombra. pensei fosse a minha mas não era. era como a de uma serpente, com braços, longa e sinuosa. ela movia-se lenta e de vez em quando olhava pra mim. mas também olhava pro mar, era nesses momentos que ela se detia mais. talvez pensasse em algo que lhe fosse tocante, não sei. e assim ficamos, nos observando por dias, até que ela se virou pra mim e disse alguma coisa. eu não entendi, eu não entendia o que ela falava e não viria a entender nunca. mas sua voz era suave e fresca, me trazia alento e um estranho conforto. então deixei que ela falasse sempre, mais e mais. seus olhos eram de uma criança e me diziam coisas que sua fala não era capaz. então, um certo dia ela estendeu as mãos pra mim e segurava uma caixa. era uma caixa pequena e de papel. ela a segurou diante de mim por muito tempo e passaram-se anos até que eu finalmente tivesse coragem de abri-la. lá dentro eu vi um livro, livro de capa dura com muitas páginas escritas. as letras eram desenhadas com diamantes, pequenos e grandes, juntinhos uns dos outros formando palavras. tudo muito minucioso, tudo muito lindo. eu li tudo aquilo e vi que era a história da minha vida."