sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A caverna




















"uma passagem estreita entre as pedras e a vontade de não ir. mas do outro lado a salvação, o ar, a água doce. mas o aperto, a claustrofobia até chegar lá. quanto durariam? dois minutos, dez? não havia como saber. dúvida e desespero, que combinação maldita. me lancei assim mesmo. joguei meu corpo entre as paredes ásperas e próximas, fui descendo rapidamente, arranhando os braços, sentindo pele e sangue se soltando, aqui e ali. mas fui, mais e mais, com muito mais gana e vontade de acabar com aquilo do que com dor. a esta altura viro-me pra mim mesmo e me pergunto: quanto já se passou? não sei, só sei que ainda continuo indo."

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A fotografia e a onda



















"a agonia de esperar que o mar volte. esta é pra mim a pior de todas as agonias. cada onda que vai me entristece até que a próxima volte. às vezes se passa tanto tempo entre uma e outra... já está fazendo anos. tive, mesmo triste, tempo de rever todos estes livros sobre os quais eu me sento. alguns eu havia lido já fazia tanto tempo que os reli como novidade. até que entre as páginas amareladas de um deles encontrei uma velha fotografia minha, era eu quando criança. eu não me parecia nada comigo mesmo, era outra criatura, menos triste e cheia de vida. tomei, então, a ousada decisão de tirá-la dali e colocá-la do meu lado, olhando pra mim, como um lembrete constante de que eu posso voltar e ser tão bom quanto já fui um dia. pena, foi um erro, a última onda a levou e agora eu espero aqui, sentado, há anos, que a traga de volta."